sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

RESENHA AULA 12/12/14

Dia de Show e uma sensação muito gostosa de que já tenho companheiros e companheiras para passeios ao ar livre por nossa cidade com o patins nos pés. Se é grande  o aperto no coração que dá a emancipação de meus pupilos, de quem cuido com tanto carinho, é grande também a alegria de ver o progresso de cada um. 

Tudo começou com a chegada de THAÍS BARRAGAT, que com seu jeitinho silencioso dá rasteira em quem estiver distraído! Ao contrário do que é mais comum, sobretudo para as mulheres, Thaís não é de se queixar, gritar ou dizer que tem medo. Atingindo o limite do pânico expressando um charmoso rubor nas bochechas, ela passa a maior parte das aulas concentrada e em silêncio. E é assim, em silêncio, que esta come-quieta deu o show em uma aula que prometia ser simples... Para começar, sua patinação perdeu os vícios e a assimetria. Novamente os sonhos vindo contribuir para o aprendizados nas noites de meus alunos. Na chegada da escada eu a proibi de colocar a mão no corre-mão e ela nem teve problema. Segurou firme no abdômen e se equilibrou sem precisar de mim. Isso já foi um aviso de que era melhor executar o plano B, já que o plano A ia fazê-la rir dada a sua capacidade demonstrada logo no início, rs. Na primeira descida brusca ela se firmou sozinha, freando com curva de grande raio e não se intimidando com os tropicões provocados pelos pequenos galhos caídos pelo chão com a chuva. No plano inclinado grande, onde aprendemos a lidar com velocidade, Thaís se desafiou o tempo todo, apontando o patins para baixo e deixando sua velocidade aumentar. Desceu o morro principal com encaixe frontal e controlou a velocidade sozinha. Fez isso duas vezes e mostrou que agora é só praticar. No plano de concreto ela fez a freada da vassoura, e também não demonstrou dificuldades. Descendo o trecho final da volta ela treinou a rotação coerente e também deu um show de estabilidade. Depois de treinar o apoio encaixado para passar os obstáculos, Thaís começou a passar sem medo pelos tijolos e irregularidades, e me surpreendeu também com a facilidade com que adotou essa técnica. Para me deixar mais convicto de sua capacidade de andar sozinha, Thaís completou quatro tipos de frenagem em uma única aula:  encaixe frontal, meia lua, slide e vassoura. Treinando mais um pouco e refletindo sobre cada uma das técnicas, a patinação dela só pode melhorar e ficar mais segura! Orgulhoso dela e me preparando para a sua emancipação, dou cinco estrelinhas para a menina de ouro!

JULIANA chegou cedo. Thaís, cheia de energia e animada, foi nos seguindo e a aula foi divertidíssima! Ju está em fase de emancipação. Eu diria que a documentação está no cartório. Bem esperta, habilidosa, leve e forte, Juliana não tem medo de nada (o que me preocupa) e aprende rápido demais. Se desvencilhando de minha mão feito criança no parque, Ju me passa vários sustos, e eu fico atrás dela feito babá. Em nossa aula cumpriu todas as tarefas, e o nível de desafio foi só aumentando. Desce o morro sem problemas, freia bruscamente com slide e esboça uma meia lua. Começou a ver a parada da vassoura, mas estava muito empolgada e ativa para se concentrar em técnica. Então desistimos da vassoura e fomos para o grande desafio! Juliana foi levada à beira do morro super inclinado da Av. Prudente de Morais. Nosso objetivo era simples: permanecer firmes no encaixe frontal enquanto a gravidade insistia em nos levar morro abaixo. Juliana fez um pouco de força e teve um pouco de medo, mas nada que uma insistência incisiva não ofuscasse. Não só ela conseguiu se sustentar, como ainda aprendeu rotação de encaixe frontal com pivô, o que ajuda em descida super controladas e com pouco espaço de manobra (tipo a calçada do Tobogã da contorno). Para finalizar, Juliana aprendeu a subir e descer grandes degraus quando ainda está em movimento, surpreendendo na facilidade. Infelizmente ela não pode estar no Roller Rio, mas acredito que ela deva assumir para si programas mais livres de patinação de maiores distâncias. Ela está pronta para fazer longos trajetos, mas vai precisar ter mais juízo para não se machucar como soube que andou fazendo em uma certa descida enorme sem equipamento, não é mesmo JU?!

ALTAIR chegou animado, mas não trouxe seu filho que teria aula em seguida. Sua filha, VITÓRIA, foi quem deu o show do horário. Muito forte e com certa memória da patinação da infância, Altair parece mesmo um adolescente em vigor e agilidade. Sempre pronto para amparar a queda com as mãos e joelheira, ele parece não ter medo de se machucar. Contudo, justamente por que teve facilidade de recobrar sua memória de infância, o rapaz patina com as pernas excessivamente afastadas e com os braços oscilando em um plano bem alto, o que torna a experiência cansativa e esteticamente ineficiente – coisa de criança patinando. Desde sua primeira aula, sua consciência corporal vem aumentando, seus braços foram se aproximando do quadril e sua combinação engraçadíssima de pisada pronada num pé e supinada no outro passaram a se estabilizar mais. Enquanto fazemos um trabalho minucioso de postura e consciência, Altair foi treinar suas próprias manobras indo e vindo, sobretudo as de frenagem. Sua filha, que testemunhou sua bravura, também percebeu suas costas curvadas e abertura excessiva de pernas e braços. Advertido quanto à postura, pouco restava que trabalhar com seu patins, já que se tratava de patins de velocidade que restringia bem as manobras de curto espaço. Foi então que Altair experimentou um patins free style (o meu) e um patins street (o reserva). Com agilidade e um pouco de desengonço por que era estreia, Altair andou nos dois novos patins e pode comparar as experiências. Ele concluiu sem dificuldades que deveria comprar outro patins de freestyle, já que gosta de manobras em menor espaço que são mais compatíveis com a realidade de BH. Feliz em ver mais um homem povoando nosso mundo da patinação.

Aproveitando o cansaço do pai ou seus intervalos de experimentação do patins, VITÓRIA mostrou que sabe muito e que leva jeito. Bailarina desde pequena, ela tem toda a estrutura de que precisa para ser Diva. Com rapidez no atendimento dos comandos, precisão na execução e muita consciência corporal, ela evoluiu rapidamente. Isso por que bastava um comentário para ela absorver e executar. Com um patins mais simples, ela via seus movimentos limitados facilmente, e não demora ela sentir falta de um equipamento melhor para desenvolver as manobras que vier a aprender. Para nosso curto encontro, Vitória sustentou o reboque em alta velocidade, fez o zigue-zague com as duas pernas como se estivesse passando manteiga no pão e resistiu de pé aos puxões vigorosos do Sprint. Essa menina, que já é Diva, vai tão longe quanto queira, e eu aposto em Slalom ou patinação artística para seu brilho maior! Quero você entre as minhas Divas do Patins, Vitória!

CAROLINA PEREIRA foi a última aluna do dia, e estrelou bonito!! Vendo seu rosto que rescindia aromas infantis, não pude deixar de dar a aula que ela tanto esperava... Depois de um breve aquecimento e uma passagem de técnicas básicas, FOMOS PARA A RUA! Sempre em alta velocidade, para estimular a rapidez do pensamento e vigor de resposta, Carol passou apertado. Com uma alegria inabalável que ocultou muito bem seu cansaço físico que só um bom observador conseguia perceber, essa menina correu pelas ruas do São Bento como se fosse um cavaleiro de guerra. Passou por cima de todos os tipos de transição de pavimentos, subiu e desceu calçadas em alta velocidade, passou por bares, calçadas portuguesas, rachaduras e desníveis. Em alguns momentos, os desafios eram tantos a fazer frente ao seu cansaço que ela se desmanchava, ficando literalmente dependurada em meu braço. Ela se divertia até com isso, e não parava de patinar. Fizemos uma distância enorme que incluía passagens com grama e até um pavimento super perigoso feito de ranhuras fundas semelhantes às sinalizações para cego, só que ocupando toda a extensão da calçada. Com muita força de vontade e coragem invejáveis, não houve desafio que ela não cumprisse segundo o que ia narrando do seu lado. Dois ou três tombos que ela tomou com o fraldão (que resolveu usar de última hora) nem arredaram sua vontade de patinar. Em um dos tombos, inclusive, caiu no meio do lixo de um prédio, e se eu não tiro ela arrastada, sua crise de riso ia fazer ela se encher de mosquito. Na descida final, já morta e com o abdômen pedindo arrego, Carol teve dificuldades relacionadas à articulação de tronco e bacia (abdômen cansado). Mesmo assim, não desistiu. Na verdade, em relação a desistir, o street tem uma característica que só combina com guerreiros: não há como desistir, já que é necessário chegar ao destino. Um grande stand estava montado na rua que seria nossa vazão de parada para a descida da Av. Prudente de Morais vindo do São Bento. Isso tornava a descida crítica, já que o espaço de frenagem ia se reduzindo. Disse a ela que na próxima aula a gente ia descer ali... Ela me olha com uma cara desafiadora e diz: "por que não agora?!". Gente, essa menina não tem limite. Descemos pelo passeio estreito, atingimos alta velocidade, pulamos o degrau alto do meio fio e fizemos uma curva fechada para frear. Para piorar a situação, um mané manobrava todo desajeitado e entrou  na nossa frente três vezes na mesma manobra. Tanto ela não se importou que fizemos mais outra vez. Na volta, diante da sua disposição para desafios, fizemos algo que nunca fiz com nenhum aluno: descemos em alta velocidade um canteiro de grama de 1,5m de altura deslizando direto. Ela foi sem medo e desceu lindamente. Depois disso, fechando um grande arco em alta velocidade, ela ainda subiu o gramado embalada, feito le parcour. Carol sabe que precisa melhorar algumas coisas como pisada pronada do pé esquerdo e excesso de esforço com a lombar causado pelo encurvamento das costas na hora das manobras mais perigosas. Mesmo assim, ela pode se considerar, junto com Ju, Mariana Coda e Graciela, as divas mais prontas para o Street! Carol se superou de uma forma incrível, e merece MUITAS ESTRELINHAS!

Feliz com um dia cheio de desafios e vendo meus pupilos se desenvolver, estou especialmente motivado ao ver que essas meninas e meninos estão ficando prontos para grandes feitos sobre patins. Mais do  que pessoas se realizando, vejo o cenário da patinação de BH afetado por gente levando coisa tão bacana a sério. Me sinto muito realizado através de vocês, e um dia poderei retribuir tamanha alegria. Enquanto esse dia não chega, agradeço-os de coração, meus alunos e alunas queridas.

Patrick Bonnereau
Instrutor de Patinação
#VamosPatinarJuntos
bhroller


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