sábado, 31 de janeiro de 2015

RESENHA AULA 31/01/15

Doente e um pouco enfraquecido, tive um dia entre gicantes que me fizeram esquecer minha dor. Três alunos maiores de 1,80m me fizeram cogitar uma plataforma para dar aula "à altura", rs. Com calma mas sem perder o nível de exigência, as aulas foram muito produtivas e povoadas. Fico sempre muito feliz com meus pupilos em volta de meus alunos aprendendo juntos durante a aula, e espero ver isso sempre!

ROBERTA NOGUEIRA chegou mais cedo e estava super ansiosa para a aula começar. Seu marido e filhos compareceram, e ouvi dizer que ela aprontou um reboliço em casa por causa da tal aula. Com dificuldades de me deslocar e evitando movimentos bruscos, tive que dar uma aula light, mas mesmo assim levamos a menina à exaustão. Com uma fraqueza nas pernas, especialmente na parte interna da perna direita, sua sustentação estava frágil e suas pernas resvalavam só de tentar ficar de pé. Por vezes eu tive que deixar de lado alguma demonstração por não poder deixá-la sozinha nem por um instante. Para tornar seu desafio mais difícil, ela tinha um patins SoftBoot (bota de pano) que não previnia a rotação do tornozelo, o que acabou deixando Roberta bastante insegura. Com bastante medo e enfrentando o assédio dos filhos que passavam por suas pernas excitadíssimos durante a aula, Roberta teve mais trabalho de concentração e raciocínio motor que o seu extenuante labor físico. Estimulada física e mentalmente até o limite, seu sorriso não se abalava. A alegria de patinar e realizar uma vontade de muitos anos estava alí para desbancar qualquer dificuldade. E foi nesse ritmo e com muita persistênca que, em menos de meia hora, sua musculatura começou a acordar para os esforços de que precisávamos. Sua pisada miuto aberta, que vinha da junção do medo de cair com a pisada afastada de seu biotipo, foi ser corrigida com uma pendulação que custou a sair. Isso por que Roberta estava muito dependente de apoio até para ficar de pé. Já estava me sentindo uma bengala quando ela começou a criar coragem e deixar de apoiar com força. Isso custou tanto esforço e repetição que, ao final, sua técnica adquirida foi ocultada pelo cansaço extremo. Via-se perfeitamente que Roberta ainda tinha vontade de patinar, mas que o corpo não aguentava mais o Sol e os esforços. Seu filho de 3 anos pareceu interessado nas aulas e não tirava o olho da mamãe patinadora. Acho que teremos um patinador mirim em breve. Mas o mais interessante foi a expressão do marido, que tinha os olhos brilhando o tempo todo. Desconfio que teremos mais um rapaz no time.

GUILHERME MELO chegou logo em seguida. Esse moço esteve na Massa Crítica antes mesmo da primeira aula. E não é só isso: a massa crítica foi no dia anterior!! Esse guerreiro intrépido pagou para ver e só não concluiu o percurso de mais de 15km por que em algum momento o grupo de mais de 1.000 ciclistas se separou em dois e ele se viu no meio de carros e trânsito, sendo obrigado a pegar um TAXI e ir para o ponto de encontro. Pois ele aprendeu tanto na massa crítica que tenho que lembrar que o URBAN é uma das melhores formas de aprender pelo método do choque. Começando com patinação desengonçada pelas ruas de BH, Guilherme dava indícios de que não ia suportar o trajeto com tamanho desperdício de energia. Dei um toque nele sobre a economia de alavancas e uma patinação mais centrada e ele acolheu imediatamente (o que não faz a necessidade?, rs). Ali já se via um progresso por que não tinha como optar por não fazer ou "parar um pouco". São 1.000 pessoas querendo passar, e você tem que patinar se não quiser ser atropelado ou ficar para tras. Pois foi no espírito aventureiro de sexta que Guilherme chegou no sábado. Diferente do método grosseiro e agressivo que a Massa Crítica representa, nossa aula na esplanada foi extremamente técnica e refinada. O corajoso patinador tinha uma pisada muito aberta e, como todos os que patinam assim, gastava muita energia pendulando, além de sentir um certo desconforto em balançar demais. Trabalhando na subida, o grande corretor de patinação ineficiente, fomos fortalecer sua passada, centralizar sua pendulação melhorar os ombros protusos, que é uma característica dele que o patins pode ajudar a reverter. Para liberar os ombros, mexemos no arco da lombar trocando a rotação do fêmur e o apoio dos pés. É incrível como o patins redistribui até mesmo as víceras! Sua patinada também tinha o problema de ser por demais curta, o que fazia seu passeio se assemelhar ao de um pinguim. Seu domínio de curvas era assimétrico: sua curva para a direita é impecável, mas para o outro lado não saía. Com um pouco de trabalho e muita garra (ele tem muita) conseguimos abrir os dois lados

DAVID chegou um pouco atrasado, mas chegou patinando e aquecido. Seus quase 1,90m e suas pernas naturalmente afastadas tornam especialmente difícil a sua patinação com leveza, mas ele não desiste e não vê problema nenhum em dar o melhor de si. Com o trabalho de enconstar o calcanhar e com bastante paciência, David FINALMENTE conquistou o melhor de sua patinação! Patinando com o apoio 100% transferido (uma perna de cada vez) ele deu meia volta na esplanada sem apoiar com duas pernas e nem curvar a lombar. David usou um pouco o apoio durante o percurso, mas o papel do instrutor durante a aula foi mais moral do que qualquer outro. Passamos às curvas. Para somar-se à dificuldade com a pendulação, David teve que enfrentar também a sua softboot (bota macia), que cedia ao seu peso nos jogos de quadril e faziam seus pés deitarem no chão perigosamente. Ainda estamos trabalhando uma pisada mais precisa para não pronar. Mesmo assim, a insegurança na hora da curva o faz quase deitar no chão de medo, e nada sai do jeito que tem que ser. A vantagem é que ele já adquiriu a consiência e eu não preciso falar nada durante a curva: ele mesmo se ajeita. Guilherme, que durante a aula anterior só se animou mais, ficou rodeando a aula e fazendo tudo junto com a gente. Foi super divertido ver os dois aprendendo juntos! Seguindo o exemplo de Guilherme, e por que não tenha ainda se cansado de tanto tentar, David ainda ficou 40 minutos treinando após a aula. Fiquei de longe olhando e me orgulhei do progresse autônomo dele. Sua curva para a esquerda começou a sair sem ajuda!

NORVAL chegou com Mulher e filhos - adoro família inline. Ele, que nunca tinha patinado, me chega com um patins DUP (daquele que se calça com um sapato) e nos pés um tênis com câmera de ar. O efeito disso, a pesar da surpreendente eficiência do patins em fixar sapatos diversos, é que a flexibilidade da câmera de ar do tênis implica instabilidade interna na pisada. Em seus mais de 100kg distribuídos em 1,90m Norval fez milagres nesse primeiro encontro. Fazendo muita força a cada erro de transferência de carga, Norval foi conhecendo aos poucos os limites. Imaginem que não é fácil estabilizar tanta carga quando a gravidade insiste em clamar os seus ao chão. Sem uma queixa ou expressão de sofrimento, o guerreiro enfrentou 50 minutos de aula sob o Sol. Idas e vindas, testes e repetições e ele começou a trocar de carga sozinho. Com dificuldade de manter a pisada reta devido à instabilidade do patins, ele acabou se cansando muito rápido, e quando já estava pegando o jeito suas forças já se acabavam. O que ficou claro, contudo, é que o patins fez uma exigência muito positiva, tanto cardiovascular quanto de força, e isso, se bem administrado, vai fazer muito bém à saúde de nosso guerreiro. No final da aula, cansado e tendo andado relativamente pouca distância, Norval fez um progresso que passaria despercebido aos olhos de um curioso desatento: ele adquiriu consciência de toda a questão funcional dos movimentos e entrou num processo de recrutamento muscular. Agora é só questão de tempo e prática até ele se fortalecer e reestabelecer o equilíbrio com o novo brinquedo.

IRACEMA chegou duas horas antes, e com a caravana. Dessa vez ela chegou a pé e quem estava com o patins era a Isabella, sua filha! A menina estava tão empolgada que nem fechava a boca direito, rs. Com um sorrisão no rosto veio me cumprimentar, e foi obrigada a passar um aperto com minhas rodadas e puxões. Não consigo me conter com a empolgação alheia, rs. Iracema, que já tinha arrastado o marido e o sobrinho, agora traz a filha para a nova família da patinação! Empolgadíssima pela volta da patinação depois de tanto tempo, Iracema foi afetada pelo seu super descanso de férias. Descansada do Pilates e das atividades físicas em geral, seu corpo ainda estava em ritmo de praia. Isso fez a aula ser incrementada com tombos leves e muitas risadas das pernas que não respondiam e das broncas que ela dava nos joelhos (deveria ter gravados os sermões). Fiquei na dúvida se quando falamos com joelhos podemos chamar isso de monólogo. Seu medo e sua ansiedade foram a primeira coisa a ser trabalhada. Logo na subida, que para mim é sempre um "sossega leão", ela entendeu e respirou mais fundo. Ansiosa e sempre animada, Iracema desfilava com uma cara de menina que é até engraçado. Sob a minha constante pressão para que ela fizesse o melhor, Iracema foi acordando do sono das férias e, sem perceber, retomando todos os aprendizados que estavam lá no fundo. Diante de minha exigência de qualidade nos movimentos e de uma ousada tentativa de mudar radicalmente o padrão viciado da patinada de calcanhar projetado, ficou uma impressão de que a aula não rendeu ou que esteve acima do nível para o qual ela estava preparada, mas foi só impressão. De um começo amedrontado e contido, a patinação de Iracema chegou a velocidades grandes e até perigosas. Nas curvas Iracema tem uma preferência pelo lado esquerdo, rs, e acabamos assumindo trabalhar só ele para não embolar demais. Com corpo e peso de menina, Iracema caia feito uma criança, rindo e sem impacto. Agora temos que trabalhar a concentração e o foco! Espero que os próximos sonos tragam para ela todos os aprendizados de sempre para nosso próximo passeio. Está de parabéns.

SIMONE já patina e trouxe vícios da infância consigo para corrigirmos na aula. Incrivelmente alta, a menina é AVÓ! Não consegui conter minha cara de xoque quando fiquei sabendo. Contrariando todas as minhas previsões, a moça alta que usava um patins OXER de bota de pano tinha a pisada IMPECÁVEL. E já saiu andando de cara, com aquelas pernas enormes. Com a perna esquerda mais fraca que a direita, Simone mancava toda vez que pendulava para o lado direito, deixando o pé arrastar. A nossa estratégia para corrigir esse vício foi a mesma do David: calcanhares que se esbarram na troca de pernas obrigam a mudança de base a ser perfeita. Em 15 minutos ela já tinha entendido o recado e patinou FEITO DIVA! Ela mesmo ficou impressionada com sua patinação, e nem precisamos repetir muito até que ela introjetasse a tecnica e a intenção. Passamos à fase seguinte: reboque frontal e curva. Simone, que já fazia a famosa e tão conhecida meia-lua da infância, corrigiu um pouco questões de estilo e firmeza e partiu para a meia lua fechada, com direito a curva de alto desempenho e tudo mais. Exausta de todo esforço e desafio, Simone assentou no Braga para uma relaxada e networking final. Encerramos a noite com açaí e pão de queijo.

No meio de gigantes passei mais uma tarde e noite testemunhando crescimento dos meus pupilos. Entre açaís, pães de queijo e alegria de rever pessoas tão felizes fiz eu mesmo meu próprio dia feliz. E com o meu sentimento de sempre: GRATIDÃO, fui para casa me recolher e cuidar de guardar na memória cada momento para a posteridade. Que meus dias sem patins de muito adiante possam ser povoados por essas lembranças vez ou outra... Obrigado meninos!

Patrick Bonnereau
Instrutor de Patinação
#VamosPatinarJuntos
bhroller

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